A minha principal preocupação é que os cristãos que trabalham como professores mantenham a sua convicção e alegria na profissão, e continuem assim “cristãos contagiantes” nas suas escolas. Creio que a mensagem de Cristo – o amor verdadeiro – é central hoje como sempre foi, e que por isso as escolas necessitam de cristãos verdadeiros.
O que quero dizer com “cristãos verdadeiros”? São cristãos que sabem que não são os autores do seu amor, mas que podem e devem receber este amor de Cristo, e que podem e devem deixá-l'O guiá-los nos seus comportamentos e nas suas acções. Estou a falar de cristãos que não dêem apenas uma “impressão redimida” (tal como Nietzche pedia dos Cristãos), mas que são redimidos – do medo de si próprios, das suas preocupações pela sobrevivência, do peso da culpa. Têm uma âncora, uma direcção, uma alegria contagiante, que não depende das circunstâncias.
No entanto, a palavra amor é perigosa nos dias de hoje – porque foi tantas vezes usada de forma incorrecta, e é facilmente associada ao sexo. Uma estratégia maldosa do inimigo de Deus! Mas se entendermos a palavra no seu verdadeiro sentido bíblico, torna-se imediatamente claro que é essencial a tudo na vida, e especialmente nas escolas. “Se eu entender todos os mistérios e todo o conhecimento... mas não tiver amor, eu não sou nada”, diz Paulo em I aos Coríntios.
Já não experimentámos todos isto na escola? Que professores tiveram uma influência positiva na sua vida? Não foram aqueles que demonstraram amor? E com isto não quero dizer que eram moles, ou brandos, nem sem limites!! Mas você era importante para eles, e levavam-no a sério.
Recentemente tive essa experiência numa conferência em Zurique (“ Qualidade em Escolas Multiculturais” que dá apoio a escolas com mais de 50% de alunos imigrantes). Quatro jovens alunos falaram num seminário das suas experiências em escolas suíças. O que me impressionou foi que cada um deles de alguma forma ligou o seu sucesso a uma pessoa que os tinha amado e apoiado. Num dos casos falou-se de uma professora do 2º ciclo que fez tudo pela aluna congolesa, e quando esta desistiu da escola, não só a encorajou a manter a cabeça erguida, mas também lhe pagou o acesso ao ensino privado. Hoje ela estuda na Universidade de Zurique. Ela contou a sua história muito emocionada, e tenho a certeza de que o amor da sua professora vai irradiar cada vez mais na sua vida.
No meu trabalho como professor de educação especial, experimento a cada dia como as crianças que já tinham desistido delas próprias podem florescer. E oro todas as manhãs para que Deus me dê o amor e a sabedoria de que preciso para providenciar a estas crianças tudo o que elas precisam.
Infelizmente o amor é mal entendido por muitos no sentido em que temos que satisfazer todos os desejos das crianças. Só posso dizer que este é um dos piores mal entendidos dos nossos dias. As crianças cujos pais não se atrevem a marcar limites, estão entre as mais dignas de pena. O verdadeiro amor requer que apliquemos a nossa razão e a nossa experiência de forma a habituarmos as nossas crianças aos limites que são indispensáveis a uma vida de significado com os outros.
Quando um professor entende a sua tarefa no sentido cristão como um serviço para os humanos-em-treinamento, então esta profissão torna-se bela, mas também muito exigente. No tocante ao trabalho com as crianças, ao professor é pedido diariamente, e hora a hora, e minuto a minuto, que esteja presente com a totalidade do seu ser. Para muitos, este facto, por si só, os leva ao limite das forças. O fracasso não pode ser facilmente visto como um fracasso parcial, mas é facilmente entendido como o fracasso do seu ser total. Isto é bastante assustador. E por isso é grande a tentação de esquecer os seus ideais e concentrar-se nas exigências que lhe são colocadas pelo sistema: bom desempenho na classe e também atenção individualizada, atmosfera descontraída na sala de aula e também exigências elevadas dos alunos, participação empenhada em projectos de desenvolvimento na escola e ainda preparação cuidadosa dos assuntos a ensinar, imparcialidade e ainda, tolerância, etc., etc. Quantas vezes vi professores tomarem estas exigências excessivas sobre os ombros e depois desistirem!
Fiquei bastante perturbado com o que ouvi de professores em Inglaterra por ocasião da conferência da EurECA na Croácia no Verão passado. As escolas na Inglaterra são classificadas anualmente, e a classificação é publicada nos jornais. E parece que tudo o que acontece nas escolas é tão direccionado para estes testes, que uma jovem cristã, que tinha começado a ensinar com tremendo entusiasmo, depois de um ano de trabalho teve de admitir desiludida, que o único alvo dela era preparar as crianças para os testes! Igualmente na Suíça, a prática de classificações às escolas está a tomar conta do ensino.
Mesmo os professores mais experientes gemem sob o peso esmagador das constantes mudanças. Da noite para o dia é necessário começar a ensinar matemática com um livro completamente novo, que requer que o professor leia cerca de mil páginas sem estar sequer preparado para as necessidades do respectivo nível; da noite para o dia é necessário aplicar um novo sistema de classificação após apenas um dia de estudo do mesmo; o novo sistema de classificação para professores requer que o mesmo escreva um dossier sobre si próprio e que justifique o seu trabalho aos examinadores após poucas visitas; onde as novas administrações de escolas foram introduzidas, os professores enfrentam uma nova luta por poder; variadas formas de poupar dinheiro são promessas de redução na qualidade, e é necessário perguntar constantemente: “devemos/atrevemo-nos a aceitar isto como está?” Resumindo: quer o fardo da sala de aula quer as pressões de todo o ambiente à volta, desgastam-no!
Depois do meu curso sabático de três meses em 1999, do qual todos os 35 participantes começaram, por assim dizer, de língua de fora, um dos colegas chegou ao ponto de dizer: “É melhor ser um professor feliz do que um bom professor!” O que ele queria dizer era: “É melhor não tentar ser bom em tudo, só o vai fazer cair; mas guardar a sua força para os seus ideais e para a confiança na vida, que os seus alunos necessitam da sua parte.”
É isto que eu gostaria de dizer aos meus queridos colegas: Resistam à tentação de gastar a vossa energia a fazer tudo bem! Mas mantenham a perspectiva mais lata para o vosso ideal: Transmitir o amor de Deus - “do coração dos crentes fluirão rios de água viva” (João 7:38)
Por: Matt Kagi
Presidente da Associação dos Educadores Europeus Cristãos e professor do ensino especial. (Publicado no "portalevangelico.pt" em 2007-11-29)
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