A hora daquela apresentação tão esperada (e temida) se aproxima. Ela pode garantir seu emprego, sua promoção, ou pelo menos uma boa imagem perante muita gente importante. Aí, você começa a suar frio, suas mãos tremem, a língua trava. Ih, deu branco! Acalme-se. Não são poucas as pessoas que sofrem um bocado quando precisam falar em público. Mas, seja qual for o motivo, é possível contorná-lo. Palestrantes conceituados em todo o país garantem: conhecimento e postura são essenciais para uma apresentação bem feita - tarefa mais simples do que se imagina...
Para Mario Persona, palestrante e professor de estratégias de comunicação e marketing, a comunicação é intrínseca ao ser humano e de extrema importância para o seu desenvolvimento social. Passar por situações como a descrita acima, portanto, é muito comum e até mesmo vital. "Com uma freqüência cada vez maior somos solicitados a falar em público, seja em uma festa familiar, em uma reunião no trabalho ou em um evento público. Qualquer pessoa deveria dominar essa técnica", defende Mario.
Quem se respeita e se aceita, mesmo com defeitos, naturalmente vai conquistar o respeito e a aceitação dos outros. A injeção de 'auto-estima' pode ser feita diariamente, com atitudes simples.
Não se trata de uma arte, como muitos pensam. Ney Pereira, responsável pelo programa de aperfeiçoamento de docentes da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor de comunicação empresarial do Ibmec-RJ, afirma que falar em público é uma habilidade, e não um talento nato. E requer, sim, metodologia e treino. "As pessoas acreditam que basta ser desinibido para falar bem, o que não é verdade. O 'falador desinibido', quando não domina as técnicas de apresentação, acaba falando besteira", frisa Ney, que atualmente realiza um curso sobre o tema, em parceria com a Compass Business School. Segundo ele, comunicar-se é uma das principais formas de se fazer marketing pessoal.
É claro que ninguém precisa ser um palestrante profissional para falar em público. "Quanto maior sua capacidade na profissão ou atividade que exerce, maior o desconto que sua audiência dará para possíveis falhas; portanto, não é preciso se preocupar tanto se você tem coisas importantes a dizer. Conscientizar-se disso ajuda a eliminar uma cobrança excessiva de si mesmo ao falar, reduzindo o estresse", assevera Mario Persona. E é justamente o estresse, aliado ao medo e à insegurança, o que forma o grande vilão na hora de falar. "No momento em que você se expõe é que as pessoas fazem um julgamento sobre você, o que pode te projetar, por exemplo, a uma carreira brilhante ou ao fracasso. É natural que haja um medo das conseqüências desse julgamento, e é isso que causa tanto pavor em quem vai se apresentar", explica Ney Pereira, que enumera os dois motivos pelos quais as pessoas podem ter dificuldades em apresentações: fobia (ou glossofobia, aversão extremada a falar em público), que atinge poucos e exige acompanhamento profissional, e a insegurança ou timidez, que acontece na maioria dos casos.
Superando o medo
A palestrante Leila Navarro, considerada uma dos 20 maiores palestrantes do Brasil, ressalta que o medo de falar em público chega a superar, muitas vezes, o medo de morrer. "Na verdade, temos medo do ridículo, de errar... Mas quem nunca erra? Aos 20 anos, eu era tímida, e meu avô certa vez me falou: 'Quando estiver com vergonha, imagine as pessoas que estão te intimidando em uma situação comum, mas constrangedora - no banheiro, por exemplo'. É preciso entender que o outro é igual a você, que erra como você. Não somos nem piores nem melhores que ninguém", diz Leila. Para ela, aproveitar as circunstâncias e colocá-las a seu favor é um trunfo. "Tem gente que consegue fazer uso de uma fraqueza pessoal para se comunicar. A vida já nos ensina muita coisa, o que a gente tem que fazer é usufruir de tudo e se jogar", opina.
Mario Persona acredita que o medo não deve ser eliminado, e sim administrado para se transformar em aliado na hora de falar. "Quem fala deve aprender a transformar a adrenalina liberada pelo medo em energia e vigor para a comunicação", esclarece. Quando o nervosismo está acima do normal, uma boa técnica para controlá-lo, segundo o palestrante, é não entrar logo no assunto, mas começar falando de si mesmo, de sua família e outras amenidades. "Isso reduz a tensão do orador e também permite que o público o veja como um ser humano e passe a relevar falhas. Além do mais, é muito mais tranqüilo falar sem gaguejar de um assunto corriqueiro. Depois desse aquecimento fica fácil fazer a transição para o tema da palestra", aconselha.
Se a preocupação é com as possíveis falhas no decorrer da apresentação, outra dica é deixá-las claras logo de início. "Ao falar de meus defeitos, não dou a chance de meu público descobri-los - sou eu quem está no controle. Se não há mais nada a esconder, perdemos o medo que as pessoas percebam o que há de 'errado' conosco", argumenta Mario. Da mesma forma, cuidar da auto-estima constantemente é uma ótima preparação para evitar o temor e o constrangimento ao cometer algum erro. Leila Navarro deixa claro que autoconhecimento e autoconfiança são as chaves do sucesso também na hora de discursar: "Quem se respeita e se aceita, mesmo com defeitos, naturalmente vai conquistar o respeito e a aceitação dos outros. A injeção de auto-estima pode ser feita diariamente, com atitudes simples. Costumo escrever no espelho, de batom, alguma frase poderosa como ' você é a mulher que eu queria ser', para ler quando eu acordar. Programe o seu cérebro para se sentir bem", recomenda a palestrante.
Para reduzir a insegurança, acima de tudo, os especialistas recomendam treino, organização e conhecimento - do que será dito e de quem ouvirá. Isso vale tanto para os mais tímidos, quanto para os menos inibidos. "Quando você sabe bem o que fazer, os resultados são mais satisfatórios e é até possível prever as conseqüências daquele discurso. A timidez, por exemplo, torna-se um problema muitíssimo menor e menos visível se a pessoa dominar a técnica ao falar", garante Ney Pereira, que adverte que a falta de preparação pode resultar em graves riscos à imagem. Outro ponto essencial é conhecer a platéia, saber para quem você vai se dirigir. "Um lutador não pode entrar no ringue sem conhecer a fundo o adversário", compara Ney. Mario Persona reforça a opinião: "Quem fala em público está ali como quem vai vender um produto, que são suas idéias. Isso deve ser feito da maneira que traga melhores resultados e maior satisfação para os ouvintes".
E como se preparar adequadamente antes de uma apresentação? Hoje, há diversos cursos, palestras e profissionais que podem ajudar nesta atividade, mas a própria pessoa tem várias formas de treinar a si mesmo."Qualquer pessoa pode ensaiar na privacidade de seu quarto, diante de um espelho, para analisar sua postura e expressões, além de timbre de voz e articulação das palavras. Se der para filmar a si mesmo, poderá analisar o resultado, fazer correções e pedir críticas e sugestões à família", indica Mario Persona.
Para apresentar-se profissionalmente, é necessário saber, também, como persuadir o outro, usando a voz e a postura no sentido estratégico.
Já Ney Pereira faz questão de salientar que a oratória, embora seja de vital importância, não pode ser a única coisa a ser levada em consideração. "Para apresentar-se profissionalmente, é necessário saber, também, como persuadir o outro, usando a voz e a postura no sentido estratégico", avalia. Ele lembra, ainda, que o sucesso de um discurso vai depender de três fatores: o físico (cuidar e treinar a voz com exercícios fonoaudiológicos, controlar a gesticulação, manter uma boa postura), o emocional (a audiência deve se identificar com o orador e com suas palavras), e o cognitivo (ser informativo e objetivo, deixando claro os benefícios que a platéia terá ao ouvir o apresentador).
Confira as principais dicas (e mais algumas) para falar em público com êxito:
- Não perca qualquer oportunidade para falar em público. É a sua chance de treinar e deixar sua marca pessoal.
- Se tiver a voz muito fina, anasalada ou baixa, vá a um fonoaudiólogo ou tente fazer um curso de teatro, canto ou de impostação e projeção de voz. Caso não possa, pelo menos pratique exercícios que busquem melhorar isso.
- Nunca, jamais, em hipótese nenhuma fale sobre um assunto que não domina.
- Sempre estude antes o que irá dizer e ordene as informações em tópicos, mesmo que seja só mentalmente
- Conheça a sua platéia. Se puder, estude o perfil das pessoas que vão assistir à apresentação. Use uma linguagem comum a todas.
- Analise também os objetivos (o que você quer com aquele discurso) e o que será útil para quem for ouvir.
- Faça o reconhecimento do ambiente e os recursos disponíveis. Eles poderão ser usados para melhorar a sua comunicação.
- Só utilize recursos audiovisuais (imagens, sons, vídeos, slides) quando a palavra não for suficiente para passar toda a informação.
- Evite problemas estruturais ou com o aparato tecnológico. "Os microfones e o manuseio das apresentações em computador devem ser treinado em casa, para não se correr o risco de ter problemas de som ou perder minutos preciosos tentando entender o equipamento", diz Mario Persona.
- Evite, também, os cacoetes. "As falhas técnicas acabam desviando a atenção do público, e o mesmo acontece com vícios de linguagem, como o uso exacerbado de 'né', 'ou seja' e outras expressões. Movimentos estranhos com o corpo, com os pés e com as mãos também são inimigos do orador", destaca Mario.
- Não fale demais! "O peixe é fisgado porque abre a boca quando não deveria. O excesso de informação vira desinformação. Seja claro, objetivo e sucinto", recomenda Ney Pereira.
- Trabalhe a entonação da voz e aprenda a fazer uso do silêncio para sublinhar suas palavras.
- Se pretender ler, nunca fazê-lo segurando uma folha de papel na mão. "Isso fatalmente irá denunciar qualquer tremor e comprometer a segurança e certeza que você deveria transmitir. Utilize pequenos cartões", aconselha Mario Persona.
- Cuidado com a gesticulação. "Imagine-se na tela de uma TV apresentando um telejornal. Isto implica manter o público atento à sua boca e expressões, e aos movimentos de suas mãos, que devem ser mantidas dentro dessa 'tela' imaginária. As mãos só devem enfatizar a fala acima da cintura para não desviar a atenção para longe do rosto", ensina Mario.
- Evite comentários paralelos e não exponha levianamente o seu ponto de vista pessoal.
- Não deixe a humildade de lado. "Tem gente que acha que o bom palestrante é 'cheio de si'. Realmente, é importantíssimo ter uma boa auto-estima e passar segurança e ciência do que se está falando, mas sem esquecer em nenhum momento a humildade. Mostre que você é uma pessoa igual àquela que está te ouvindo sentada", enfatiza Leila Navarro.
- Faça rir, mas somente se conseguir. "Se você tem um perfil bem-humorado e costuma contar piadas, pode aproveitar essa característica, mas nem tente ser engraçado em público se isso não acontecer naturalmente nas rodas entre amigos", acrescenta Mario Persona.
Mônica Vitória
Extraído do portal MSN
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