Por causa do meu trabalho com crianças, para quem não sabe, escrevo para elas e com muito orgulho, geralmente sou convidada para falar sobre o tema leitura.
Como incentivar uma criança a ler, como criar o hábito da leitura. Muitas formas, a mesma questão.
Eu acredito que a grande pergunta é como estimular o prazer da leitura. Hábitos, comportamentos, se adquirem quando gostamos de fazer algo.
Claro que cada pessoa funciona de um jeito.
Quando criança, na minha casa não havia muitos livros. Lembro de quando os meus pais compraram para nós, eu e meus irmãos, uma enciclopédia com livros para pesquisa escolar e alguns clássicos da literatura mundial infanto-juvenil. Lembro desses livros até hoje. Lembro do cheiro, da encadernação, das cores e ilustrações. Aquela aquisição me marcou.
Foram os livros que marcaram a minha infância e depois de ler e reler várias vezes os mesmos, comecei a procurar novas leituras.
Alguns livros vieram da escola, mas não foram muitos. Não havia o hábito de frequentar a biblioteca, e os professores nem sempre conversavam sobre os livros com os alunos, sobre histórias e o que havia de leitura era, em geral, obrigatória e por isso, na maioria das vezes, chata.
Livros têm a ver também com o nosso estado de espírito, nosso momento, nossos interesses, com a nossa curiosidade.
Há épocas em que lemos mais para nos informar, outras para entreter e há pessoas que leem de tudo e todas as fases da vida.
Nada desperta mais para uma leitura que uma boa conversa sobre um determinado tema, uma contação de história bem feita, pelo menos comigo funcionava assim. E ver pessoas lendo. Criança segue o exemplo, a criança que vê outras crianças lendo, os pais lendo, irá, no mínimo, ter curiosidade em ler também.
Uma coisa que considero muito importante são as bibliotecas, tanto escolares quanto as públicas. Bibliotecas com bons acervos e que estes estejam bem conservados.
Tanto nas bibliotecas como nas livrarias deveriam existir sempre profissionais leitores, profissionais especializados, que saibam fazer indicações, comentar sobre alguns autores, algumas obras. Parece óbvio, mas na prática isso nem sempre acontece.
"Massacrar" a criança com a informação de que ler é importante, de que o livro é o nosso grande tesouro, mas não convidá-la ao mundo encantado das histórias, da palavra é um enorme desperdício.
Em um país como o Brasil, onde o índice de analfabetos funcionais é tão grande, a formação de leitores fica colocada em um patamar quase utópico.
Formar leitores é tarefa da família, da escola, da sociedade.
Espero que os editores caprichem cada vez mais nas publicações, buscando histórias criativas, bons autores da atualidade (temos muitos), que relancem também os clássicos da literatura mundial e que não se preocupem só com as vendas, ter a coragem para inverter o quadro pode levar mais tempo mas atrairá um imenso número de leitores e fieis.
Às vezes lançar um livreto sobre um personagem de desenho animado atual pode vender, em determinadas épocas acho até interessante. Meus filhos quando bebês brincavam com vários livros desses. Mas não são histórias, poucos são.
Que os projetos de incentivo à leitura sejam cada vez mais bem recebidos pela sociedade e que sejam reforçados pelo governo.
A criança já nasce com os pés no mundo da fantasia, da imaginação. A sociedade é que a afasta. Talvez o processo de aproximação da criança com o livro, com a leitura prazerosa seja muito mais simples do que imaginamos.
fonte: Blog do Galeno
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